Olhando para dentro de si
- Rosemeire Zago -
Sempre queremos orientações para solucionar vários tipos de conflitos e é sempre bom lembrar que a maioria deles pode ser amenizado obtendo o autoconhecimento, que se consegue mais efetivamente com o processo da psicoterapia. Mas por qual motivo insisto neste trabalho? Porque dificilmente conseguimos olhar para tudo que há dentro de nós sem auxílio de um profissional. Amigos podem ajudar? Claro que sim, mas cada um traz em si um histórico de vida, e quando contamos algo a alguém e nos é dado um conselho ou opinião, em geral essa resposta estará contaminada com histórico da pessoa, ou seja, aquilo que ela viveu irá interferir diretamente na opinião que irá lhe dar; diferente do profissional que não está lá para te dizer o quê ou como fazer, mas sim proporcionar uma maior reflexão de seus próprios sentimentos e atitudes. Quer um exemplo? Se você contar para um amigo uma briga que teve com sua mãe, irá ouvir algo relacionado com o referencial que seu amigo viveu durante a vida em relação à mãe dele. Se seu amigo tem conflitos com a mãe, poderá influenciar na opinião que dará. Raramente você irá ouvir como resposta algo que o faça refletir sobre seus próprios sentimentos.
Outro fator importante é que na psicoterapia, dependendo da linha ou teoria do trabalho, é considerado não apenas o consciente, mas principalmente o inconsciente, onde estão registrados tudo aquilo que vivemos, e principalmente o que sentimos, desde a concepção até o momento presente. E muitas pessoas por não terem este conhecimento acabam por limitar a percepção de si mesmas. Ou seja, para nos conhecermos devemos considerar também os aspectos inconscientes. O que raramente um amigo irá fazer.
São nossos pensamentos e opiniões que criam nossos sentimentos, e ambos criam nossas atitudes. Mas tememos os sentimentos, fugimos deles, negamos senti-los e com isso, as dificuldades se somam. O fato de ignorarmos o que sentimos não faz com que desapareçam de dentro de nós, pelo contrário, tudo o que é negado se torna mais forte. Quando reprimimos o que sentimos, estamos impedindo que a energia contida se manifeste e nos mantemos no mesmo padrão de comportamento, não permitindo que as mudanças, tão essencial ao crescimento, se efetuem. E com isso, seguimos a vida repetindo padrões. Ao refletir sobre sua vida poderá encontrar padrões de comportamentos e/ou sentimentos que se repetem. Muitas vezes as situações são diferentes, mas o sentimento despertado geralmente já é conhecido. Procure identificar o sentimento que tem tido nas últimas semanas... Perceberá que é um sentimento que o acompanha há muito tempo. Qual sua origem? Nem sempre conseguimos identificar sem auxílio de um profissional.
Para que possamos nos conhecer profundamente é necessário deixar que todas as emoções que estão dentro de nós se tornem conscientes. Sem fugas, que em geral acontecem de diversas maneiras, seja trabalhando em excesso, consumindo álcool, tendo compulsão por comida, compras, jogos, etc. Estamos constantemente ocupados com tantos afazeres, que sequer nos damos tempo para identificar o que sentimos. Tudo isso faz com que olhemos apenas para fora, e não para dentro de nós. Estamos sempre apagando incêndios e não nos damos tempo para ouvir aquilo que muitas vezes grita dentro de nós. É quando surgem doenças e sintomas, como que para nos fazer ouvir o que negamos. Se você deixasse que sua alma gritasse, o que ela diria? Ouça-a!
Outra maneira de fugir de nosso potencial e capacidade de nos olhar por inteiro é manter relações afetivas destrutivas. Ficamos tão atordoados tentando salvar nossa relação que no meio de tantas brigas, insatisfações, desentendimentos, acusações, nos sentimos sem condição de agir de forma a nos defender. Nossa capacidade em ter consciência de nosso valor parece ficar totalmente comprometida. É neste processo que nos perdemos de nós mesmos, e em vão passamos a procurar no outro a solução que está bem dentro de nós. É quando passamos a supervalorizar o outro na mesma proporção que nos desvalorizamos. O que por si só cria um círculo vicioso. Vemos o outro, ou queremos ver, como responsável por nosso sofrimento e também por nossa felicidade. E deixamos nossa vida nas mãos de alguém que muitas vezes, não consegue cuidar nem da própria vida... quem dirá da nossa. E choramos, nos desesperamos, queremos respostas urgentes, mas sequer nos damos ao trabalho de questionar sobre as possíveis causas de nossos sentimentos mais profundos.
O que fazer diante dos conflitos? Primeiro é preciso identificar seus sentimentos. Parece fácil, mas nem tanto. Pare por uns segundos e pergunte-se: o que estou sentindo neste momento? Nem sempre a resposta virá de imediato. Mas insista. Pergunte-se ainda: o que está causando minha insatisfação? (ou o que esteja sentindo...) Pergunte-se todos dos dias, ao menos uma vez por dia, qual o sentimento que está sentindo. Com certeza isso o ajudará a se conhecer um pouco mais. E o que fazer com o sentimento que identificou? Procure buscar a origem dele, em qual situação ele começou? Novamente, ouça a resposta. Exercite ouvir-se todos os dias, e assim conhecer um pouco mais de você, sem medos, mas com a convicção que dentro de você está a resposta que tanto busca!
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